Por João Pedro Goulart
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(Estagiário sob supervisão de Lucas Kurz)

No mês da Consciência Negra, um grupo de estudantes do Colégio Municipal Pelotense aproveitou o momento para refletir acerca da nomenclatura de ruas, prédios e praças em cidades brasileiras e, principalmente, em Pelotas. A iniciativa partiu de um questionamento inicial: quem são nossos verdadeiros heróis? Como forma de crítica à sociedade, os alunos planejaram nomear com placas de rua os corredores da escola com nomes de personalidades negras importantes para a história da instituição, da cidade e do País. O grupo responsável pela iniciativa faz parte do projeto Repensar, que há quatro anos trata de assuntos contemporâneos na instituição, refletindo coletivamente sobre a sociedade.

Segundo o estudante Jardel Santos, de 19 anos, a ideia das placas nasceu da discussão de pautas antirracistas em um dos encontros semanais da turma. Em uma de suas pesquisas, o estudante trouxe para o grupo algo que não é tão percebido pelas pessoas no dia a dia. Diversas ruas do Município foram nomeadas como homenagem a figuras históricas do imaginário gaúcho, cujos nomes, aliás, referem-se a escravocratas, por exemplo.

Isso fomentou o debate sobre quem são os heróis que merecem ser homenageados pelo que representam, e depois da reunião teórica, foi decidido pôr em prática aquilo que havia sido discutido. "Me recordei de uma atividade em Porto Alegre, onde dois vereadores propuseram trocar o nome de algumas ruas de lá e homenagear outras pessoas, e eu decidi trazer isso para dentro da escola", diz o jovem.

Então, com a ideia em mente, os alunos produziram uma lista de cerca de 20 nomes que poderiam ser homenageados na atividade. Os nomes incluíam figuras negras importantes para Pelotas, jornalistas, líderes, funcionários da escola, entre outros. Após ficarem prontas, as placas foram divididas entre os ambientes da instituição, colocadas em corredores, escadarias, na biblioteca e no refeitório. Santos conta que o retorno das pessoas em relação à atividade foi praticamente instantâneo. "Os estudantes vieram nos dar parabéns e o pessoal que foi homenageado ficou muito feliz", relata.

Professora de ciências e orientadora do grupo Repensar, Laura Hadler destaca a falta de representatividade do negro, e coloca o exemplo da atividade das placas como um contraponto necessário à realidade racista. "Todos do grupo Repensar colocaram os negros que queriam homenagear, os seus heróis. [...] Esse momento foi muito importante no processo de construção enquanto instituição educativa. A gente consegue isso através de temas que sabemos que devem ser tratados dentro da sala de aula e que, muitas vezes, são deixados de lado ou não se contempla", explica a professora.

A orientadora diz que fica satisfeita pela pluralidade de pessoas envolvidas nessa iniciativa e no projeto em si. Para ela, é importante que indivíduos de cor branca também estejam comprometidos no movimento. "A gente olha e parece que as causas racistas só envolvem negros, que homofobia só envolvem gays. E os outros parecem não se sentir responsáveis por estas temáticas. Tendo esse grupo bem diverso, todo mundo se apropria da sua responsabilidade enquanto sociedade", enfatiza.

Percurso Negro

De acordo com o Coordenador do Projeto Meseu do Percurso Negro de Pelotas, Luiz Carlos Matozzo, existem poucas ruas na cidade que são denominadas em alusão a personalidades negras. Segue a relação das ruas:

Passo dos Negros - Margens do São Gonçalo (Nome popular e não oficial)
Rua Zumbi dos Palmares - Bairro Navegantes
Rua Mané Garrincha - Bairro Navegantes
Rua Lupicínio Rodrigues - Bairro Navegantes
Rua Professora Eva Medeiros Gomes (Eva Carabina) - Bairro Navegantes
Rua Luciana de Araújo - Bairro Cruzeiro
Rua Marcílio Dias - Bairro Centro
Rua Miguel Barros - Bairro Eldorado
Rua Dr Luiz Gama - Bairro Eldorado
Rua Jornalista Tim Lopes - Bairro Fragata
Rua Nelson Mandela - Bairro Fragata
Rua Doutor Durval Nunes Peny - Bairro Fragata
Rua Ya Neci de Oxalá - Bairro Jardim Europa.

Além disso, após decreto aprovado na Câmara de Vereadores em 2021, as ruas e avenidas do bairro Getúlio Vargas receberam nomes de países africanos e personalidades negras de Pelotas, como, por exemplo:

Avenida Ivan da Rosa Cardoso
Avenida Sirley Amaro
Avenida Gilberto Amaro do Nascimento Giba Giba
Avenida Vereador Ademar Fernandes de Ornel
Avenida República Centro-Africana
Rua Preta G
Rua Professora Bianca Aires da Silva